

Milani defendeu a ideia de se divulgar o que é bom. "Cada um deve ler o que quiser e não seremos nós que iremos impedir; mas uma coisa é a pessoa ser livre para ler o que lhe interesse, outra é comprar no centro espírita uma obra pseudoespírita, rotulada como espírita". Lembrou que Kardec recomendou a lógica para análise dos fatos e que qualquer afirmação deve ser fundamentada em evidência. "Se for suposição, opinião, sem a devida fundamentação teórica, a informação não deve ser igorada, porém não deve ser aceita como válida", destacou. "Assim estaremos usando o método racional de Kardec. É preciso amar, mas somente a vontade não basta, necessitamos aprender como amar. Se o "como" amar está relacionado ao conhecimento, quanto mais eu me instruir, mais saberei como fazê-lo", explicou.
Em sua palestra, Milani esquematizou o que são, afinal, um livro espírita e um livro pseudoespírita, lembrando inicialmente a necessidade de se esclarecer que nem todo livro espiritualista é espírita, pois ainda que tenha alguns pontos de contato com o espiritismo, pode trazer divergências específicas, não havendo coerência doutrinária.
Perguntado sobre os romances, assunto que inclusive será destaque na próxima edição do jornal Correio Fraterno, defendeu que o romance tem sua importância, como gênero literário e como uma das formas também de se divulgar os conceitos espíritas. "Desde que não faça confusão conceitual e seja coerente com os princípios doutrinários, o romance é válido como forma de divulgação espírita. O problema também ocorre quando se usa a subjetividade, por meio da forma poética, para se conceituar distorcidamente as ideias apresentadas". Deu como exemplo, o caso da alma gêmea a que Públio Lentulus se refere em Há dois mil anos para declarar seu amor por Lívia. "Pura linguagem poética", afirmou.
Milani ainda abordou que o próprio Kardec elaborou o Catálogo Racional, contendo as obras para se formar uma biblioteca espírita. "Não uma livraria", observou. No referido catálogo, Kardec apresenta cerca de 200 obras, divididas em três grupos: obras fundamentais, obras afins (com a temática espírita, sinalizando que a sociedade está produzindo conteúdo relacionado ao "assunto espiritismo") e as obras gerais e de contraditores.
"Esse ambiente de discussão deve permear a biblioteca do centro espírita e não a livraria. Afinal, a falta de transparência e reflexão sobre assuntos diversos é que geram polêmica", alertou, citando a necessidade da discussão com o público interno dos centros e do cuidado com as indicações para o público externo.
Milani lembrou Kardec, na Revista Espírita (junho/1865), que afirmou: " É dever de todos os espíritas sinceros e devotados repudiar e desautorizar abertamente, em seu nome, os abusos de todo gênero que pudessem comprometer a doutrina espírita, a fim de não lhes assumir a responsabilidade; pactuar com os abusos seria tornar-se cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários".
Após a palestra, no painel de discussão sobre o tema, vários dirigentes de casas espíritas se manifestaram sobre a dificuldade de se manter financeiramente as instituições, muitas delas sustentadas pela receita das livrarias, chegando-se à conclusão entretanto de que é melhor enfrentar o desafio de menos vendas do que a oferta de alimento contaminado, no caso as obras pseudoespíritas, para quem tem fome.

Entre os dirigentes presentes que fizeram seus comentários, Carlos Sidney da Silva, do Centro Espírita A Caminho da Luz, em São Paulo, fez um depoimento bastante realista:
- Quando se quer recursos, acaba-se muitas vezes abrindo-se mão da pureza doutrinária. É claro que alguns nomes vendem e geram recursos para as casas, que tanto necessitam, mas nesse ponto começa a haver uma distorção dos objetivos. A verdade é que as pessoas querem chegar no centro, tomar um passe, ler um lindo romance e ser feliz. Mas o objetivo principal das casas espíritas não é esse: é a educação para minimizar os conflitos. É com isso que devemos nos preocupar. A responsabilidade é grande.O trabalho é educacional, não há milagres.
(Por Eliana Haddad)
Fonte:"Correio Fraterno" http://www.correiofraterno.com.br/nossas-secoes/71-acontece/1212-sao-paulo-se-mobiliza-a-favor-dos-bons-livros-espiritas
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