segunda-feira, 20 de maio de 2013

São Paulo se mobiliza a favor dos bons livros espíritas

marco-milani-livro-cortadaReunindo 30 dirigentes de casas espíritas de São Paulo, a USE - União das Sociedades Espíritas realizou em sua sede no último domingo, 19 de maio, um encontro coordenado por Marco Milani, diretor do Departamento do Livro, que contou com interessante palestra e painel de discussão sobre um assunto instigante que tem sido motivo de muitas opiniões isoladas - O livro espírita e pseudoespírita. A ideia, segundo Marco Milani, complementa um dos pontos que têm sido enfoque em suas palestras e seminários, que enaltece o método científico utilizado por Allan Kardec, universal e não simples opinião, para desenvolver a doutrina espírita, cujos princípios estão sequencialmente encadeados nas cinco obras básicas do espiritismo – O livro dos espíritos (1857), O livro dos médiuns (1861), O evangelho segundo o espiritismo (1864), O céu e o inferno (1865) e A gênese (1868) – trajetória que pode ser acompanhada em ordem cronológica nos 11 ricos volumes da Revista Espírita, o grande laboratório de Kardec para a constituição do espiritismo, com artigos e observações de 1858 a 1869.


"Ainda há muito que se ler sobre Kardec e o espiritismo", avisou Milani, convidando a todos ao compromisso de divulgar as ideias coerentes com os princípios espíritas porque a responsabilidade dos divulgadores e dos dirigentes de centros espíritas é grande. "Há diversas oportunidades para se conhecer o espiritismo e o livro é uma delas e somos nós que vamos oferecer o alimento bom ou contaminado aos frequentadores da casa espírita", afirmou, destacando o risco de ficarmos afastados da base kardeciana, ao sermos "bombardeados" com tantas informações rotuladas muitas vezes de "espiritismo", com ideias "supostamente espíritas", que, na falta de uma educação doutrinária mais consistente que permita conhecer e separar o joio do trigo, são aceitas como válidas.
Milani defendeu a ideia de se divulgar o que é bom. "Cada um deve ler o que quiser e não seremos nós que iremos impedir; mas uma coisa é a pessoa ser livre para ler o que lhe interesse, outra é comprar no centro espírita uma obra pseudoespírita, rotulada como espírita". Lembrou que Kardec recomendou a lógica para análise dos fatos e que qualquer afirmação deve ser fundamentada em evidência. "Se for suposição, opinião, sem a devida fundamentação teórica, a informação não deve ser igorada, porém não deve ser aceita como válida", destacou. "Assim estaremos usando o método racional de Kardec. É preciso amar, mas somente a vontade não basta, necessitamos aprender como amar. Se o "como" amar está relacionado ao conhecimento, quanto mais eu me instruir, mais saberei como fazê-lo", explicou.
Em sua palestra, Milani esquematizou o que são, afinal, um livro espírita e um livro pseudoespírita, lembrando inicialmente a necessidade de se esclarecer que nem todo livro espiritualista é espírita, pois ainda que tenha alguns pontos de contato com o espiritismo, pode trazer divergências específicas, não havendo coerência doutrinária.



Perguntado sobre os romances, assunto que inclusive será destaque na próxima edição do jornal Correio Fraterno, defendeu que o romance tem sua importância, como gênero literário e como uma das formas também de se divulgar os conceitos espíritas. "Desde que não faça confusão conceitual e seja coerente com os princípios doutrinários, o romance é válido como forma de divulgação espírita. O problema também ocorre quando se usa a subjetividade, por meio da forma poética, para se conceituar distorcidamente as ideias apresentadas". Deu como exemplo, o caso da alma gêmea a que Públio Lentulus se refere em Há dois mil anos para declarar seu amor por Lívia. "Pura linguagem poética", afirmou.

Milani ainda abordou que o próprio Kardec elaborou o Catálogo Racional, contendo as obras para se formar uma biblioteca espírita. "Não uma livraria", observou. No referido catálogo, Kardec apresenta cerca de 200 obras, divididas em três grupos: obras fundamentais, obras afins (com a temática espírita, sinalizando que a sociedade está produzindo conteúdo relacionado ao "assunto espiritismo") e as obras gerais e de contraditores.
"Esse ambiente de discussão deve permear a biblioteca do centro espírita e não a livraria. Afinal, a falta de transparência e reflexão sobre assuntos diversos é que geram polêmica", alertou, citando a necessidade da discussão com o público interno dos centros e do cuidado com as indicações para o público externo.
Milani lembrou Kardec, na Revista Espírita (junho/1865), que afirmou: " É dever de todos os espíritas sinceros e devotados repudiar e desautorizar abertamente, em seu nome, os abusos de todo gênero que pudessem comprometer a doutrina espírita, a fim de não lhes assumir a responsabilidade; pactuar com os abusos seria tornar-se cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários".
Após a palestra, no painel de discussão sobre o tema, vários dirigentes de casas espíritas se manifestaram sobre a dificuldade de se manter financeiramente as instituições, muitas delas sustentadas pela receita das livrarias, chegando-se à conclusão entretanto de que é melhor enfrentar o desafio de menos vendas do que a oferta de alimento contaminado, no caso as obras pseudoespíritas, para quem tem fome.

coerencia-doutrinariaMarco Milani concluiu com satisfação o evento. Afinal a proposta da USE estava se concretizando: trazer esse debate para levar os pontos abordados ao Conselho Regional da entidade, visando a um posicionamento com relação as obras que circulam no movimento espírita. Ele lembrou que no ano passado uma comissão doutrinária da USE elaborou uma lista com a indicação de 40 livros para a leitura espírita e esse trabalho continuará, sempre trazendo sugestões de boas obras ao movimento espírita. [Da Editora Correio Fraterno foram indicados O sono dos  hibiscos, de Lygia Barbiére Amral; e Tem espíritos no banheiro?, de Tatiana Benites]
Entre os dirigentes presentes que fizeram seus comentários, Carlos Sidney da Silva, do Centro Espírita A Caminho da Luz, em São Paulo, fez um depoimento bastante realista:
- Quando se quer recursos, acaba-se muitas vezes abrindo-se mão da pureza doutrinária. É claro que alguns nomes vendem e geram recursos para as casas, que tanto necessitam, mas nesse ponto começa a haver uma distorção dos objetivos. A verdade é que as pessoas querem chegar no centro, tomar um passe, ler um lindo romance e ser feliz. Mas o objetivo principal das casas espíritas não é esse: é a educação para minimizar os conflitos. É com isso que devemos nos preocupar. A responsabilidade é grande.O trabalho é educacional, não há milagres.


(Por Eliana Haddad)



Fonte:"Correio Fraterno"  http://www.correiofraterno.com.br/nossas-secoes/71-acontece/1212-sao-paulo-se-mobiliza-a-favor-dos-bons-livros-espiritas





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